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Quarentena - #Dia8


Oitavo dia de isolamento e hoje a deprê bateu forte. Há 11 dias eu começava em um novo trabalho e me preparava para um monte de mudanças que estavam por vir. Eu só não imaginava que depois de três dias tudo seria diferente. Contrato na nova empresa encerrado, projetos pessoais pausados, empresas pequenas, médias, grandes e gigantes fechando e demitindo milhares de pessoas todos os dias. Escolas e universidades fechadas. O metrô cada dia mais vazio. Os mercados sem papel higiênico. As ruas desertas. Madrid se preparando para parar. O país parou.

Eu que já estou aqui há algum tempo me pego pensando o por quê nunca fui ao Museu do Prado se eu sempre quis ir. Fui deixando para depois, a gente sempre deixa coisas para depois. Nunca me passou pela cabeça a imagem do museu fechado e eu sem poder caminhar até lá, exatamente o que temos hoje. A ignorância humana de achar que tudo vai estar sempre a nossa disposição, como se o controle estivesse nas nossas mãos. Será que um dia a gente aprende?

Quando as coisas voltarem ao normal, e se voltarem, espero que a gente ainda consiga desejar o que ficou para depois. O fato é que a última vez que eu falei com pessoas sem ser pela tela do celular foi na quinta-feira, dia 12 de março. Eram menos de 3.000 casos confirmados por aqui. Hoje, chegamos a 20.000 contagiados na Espanha, número que deve ser bem maior já que não tem teste para todo mundo. As mortes já são mais de 1.000.

Do lado de fora o cenário assusta e do lado de dentro tem eu tentando tirar força já não sei mais de onde para passar por tudo isso sem me perder. Dos sintomas do coronavírus eu me recuperei bem, mas é para a saúde mental que me falta imunidade. Por isso, no meio de tudo isso, tem eu tentando lidar com a ansiedade, o medo e a solidão.

Ando preocupada com o que está acontecendo aqui e perdendo o sono pensando em como isso vai chegar ao Brasil. Ao mesmo tempo que é privilégio estar longe é difícil pra caramba. É por isso que eu tô tentando valorizar o lado bom de tudo isso. Tem lado bom? Tem sim.

A conexão com a minha rede de apoio NUNCA foi tão forte. Família, amigos e amigas que me ajudam a respirar a cada meme, mensagem e vídeo-chamada. A terapia online que eu voltei há 15 dias. O isolamento que obriga que eu me escute, me respeite, me ame e me cuide. Viver um dia de cada vez nunca fez tanto sentido. Se você chegou até aqui, desejo que você fique em casa e fique bem. Use e abuse da sua rede de apoio. Seja a rede de apoio de alguém. Aproveite o seu tempo. Deixe menos coisas importantes para depois. Conte comigo.

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