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Post #1


O Naiarando nasce da vontade de colocar muita coisa para fora e, principalmente, ajudar mulheres no reencontro com a autoestima. Eu não posso começar o blog com um texto que não seja o relato que escrevi para o projeto Entre Tantos Amores, o Próprio (Etaop).

Foi o encontro com esse projeto que me desafiou a olhar para dentro e destrinchar a minha relação com o meu corpo. Para quem ainda não conhece, o Etaop é um projeto da fotógrafa Andreza Pinheiro. O objetivo é valorizar o processo de redescobrimento e aceitação da beleza de cada corpo por meio da fotografia e do olhar sensível da Andreza. É um lindo trabalho de troca, sororidade na prática.

Eu AMO MUITO as minhas fotos e sou muito fã da lindeza que é esse trabalho. O retorno que eu recebi só me fez perceber o quanto a gente pode ajudar outras mulheres com práticas simples no dia a dia e como isso é importante.

Eu costumo falar que o meu reencontro com o amor próprio começou em 2013, mas quando eu escrevi o meu relato para o Etaop, já em 2018, eu tive noção de quanta coisa eu ainda guardava. Para começarmos a nossa troca aqui no Naiarando, deixo duas sugestões. A primeira é para que vocês leiam o meu relato, que vai servir como uma apresentação de quem eu sou e como eu vim parar aqui (vou deixar ele aqui embaixo).

Depois sugiro um desafio individual, convido você a colocar para fora a sua história com o seu corpo. Recomendo muito, é libertador!!! Reserve um tempo para esse exercício de autoconhecimento, pense sobre a sua relação com o seu corpo e registre isso do jeito que for mais confortável para você: texto, poema, desenho, vídeo ou música. Quem quiser pode me enviar por e-mail, vou adorar conhecer a sua história.

Ah, antes que eu me esqueça, volto aqui uma vez por semana, um novo texto toda quinta-feira. Nos outros dias nos vemos no Facebook e no Instagram. Beijos e até daqui a pouco!!

Relato - Projeto Etaop

Eu tenho 26 anos e sempre fui gorda. Desde criança foram diversas tentativas de reverter o que me foi apresentado como um problema. Essa busca pelo emagrecimento sempre gerou ansiedade, medo e vergonha em fases diferentes da minha vida. Era muito difícil encontrar roupa, eu ouvia muitas piadas, passei anos comparando o meu corpo aos das minhas amigas, tinha vergonha de me relacionar e me sentia inferior. Na adolescência, nasceu uma autocobrança muito grande e junto com isso muitos conflitos que eu não compartilhava com ninguém e criavam feridas internas. Além da questão de ser gorda, o meu cabelo sempre foi crespo. Por isso, desde os 12 anos, eu fazia alisamento. Hoje, eu vejo que era mais uma forma de me encaixar nos padrões da sociedade, mas na época foi o caminho que eu e minha família encontramos para que eu gostasse um pouco mais de mim. Em 2010, eu mudei do Guarujá (SP) para São Paulo (SP) e essa mudança foi fundamental para que eu tivesse a oportunidade de me reencontrar. Entrar em contato com um mundo novo fez com que em algum momento de 2013, aos 21 anos, eu começasse a viver o que eu chamei de processo de aceitação. Eu, finalmente, entendi que não tinha problema ser/estar fora dos padrões e que eu só precisava mudar se eu quisesse. E como eu não queria, comecei a me ouvir mais e aprendi a dizer não para muitas coisas. Comecei deixando de alisar o cabelo e passei pela transição capilar, que durou mais de um ano. Entrar em contato com o feminismo também me fez entender alguns conflitos, o meu olhar sobre o meu corpo e o olhar da sociedade sobre o outro. Daí para frente foi só desconstrução de padrões. Eu consegui enxergar que eu era mais que um corpo gordo e passei a ver uma mulher bonita, interessante e atraente. Eu entendi que quando a gente está bem, a opinião do outro tem menos valor. Eu me dei conta de quantas vezes eu disse sim, mesmo querendo dizer não, só para me sentir aceita de alguma forma. Ainda tinham os caras que claramente estavam interessados em mim, mas ficavam em cima do muro. Então, eu aprendi que o comportamento deles não era culpa do meu peso, mas sim da falta de maturidade deles para assumir que gostavam de uma pessoa gorda. A sociedade não ensina a amar fora dos padrões e julga isso o tempo todo. Mesmo com todos esses aprendizados, os olhares na rua não deixam a gente esquecer da gordofobia e alguns acontecimentos fazem a gente pensar: “será que foi porque eu sou gorda?”. E nessas horas é preciso ter força para lembrar que se uma pessoa se incomoda com o fato de você ser gorda ou ter cabelo crespo, o problema é dela e não seu. Até as pessoas mais próximas, talvez sem perceber, vão desmerecer as suas conquistas com opiniões gordofóbicas. Numa sociedade preconceituosa e machista, não é pouca coisa ser mulher e se sentir satisfeita com o seu corpo, seu cabelo e suas escolhas. A autoestima liberta. E hoje? Hoje, eu me amo. Olho no espelho e vejo um mulherão. Sou muito mais Naiara agora que há 5 ou 10 anos. Me reencontrei com o meu corpo, com o meu cabelo e com a pessoa que eu sou e quero ser. Hoje, é mais fácil diferenciar o que é preocupação com a saúde do que é preconceito com o corpo gordo. Hoje, eu faço terapia, sigo trabalhando para diminuir as cobranças sobre mim e sou a pessoa mais importante da minha vida. Texto: Naiara Araújo - @araujonaiara Fotografia: Andreza Pinheiro - @pinheiroandreza

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